As crescentes tensões comerciais entre os EUA e a China dominam as manchetes globais, com foco frequente em tarifas e nos impactos econômicos imediatos. Mas, para a indústria farmacêutica, essa narrativa deixa de lado uma história crítica que está se desenrolando hoje: a ascensão da China como uma força líder em inovação biofarmacêutica e as profundas implicações para as principais empresas globais do setor.
Durante anos, a visão ocidental predominante da indústria farmacêutica chinesa era a de uma grande base de fabricação de baixo custo para insumos farmacêuticos ativos e genéricos – essencialmente, uma fonte de produtos comoditizados e cópias. A velocidade e a escala com que a China conseguiu fazer a transição rumo à verdadeira inovação foram sem precedentes. O foco permaneceu, por muito tempo, nos polos tradicionais de pesquisa e desenvolvimento e nos mercados ocidentais.
Do “Feito na China” ao “Criado na China”
No entanto, a definição de sucesso da China nesse setor mudou fundamentalmente. Houve uma mudança clara do “Feito na China” para o “Criado na China”. O sucesso agora é definido por reconhecimento global ao longo de toda a cadeia de valor, desde a pesquisa clínica até o lançamento de terapias inovadoras.
Por exemplo, a China foi responsável por 23% dos candidatos globais a terapias de nova geração em 2024¹. Além disso, está crescendo o número de medicamentos desenvolvidos por empresas chinesas que ganham tração internacional. Isso é evidenciado por um aumento expressivo em acordos de out-licensing, que superaram os de in-licensing tanto em volume quanto em número, saltando de US$ 8 bilhões em 2020 para US$ 52 bilhões no ano anterior².
Casos concretos tornam esse avanço mais tangível, como um ensaio clínico de fase inicial em que um novo anticorpo monoclonal da empresa chinesa Akeso Inc. apresentou resultados superiores ao Keytruda, tratamento líder de mercado da Merck³. E não se trata apenas de anticorpos monoclonais – a China também estabeleceu liderança em outras áreas avançadas da biotecnologia, desde abordagens tecnológicas como sequenciamento genético até modalidades como conjugados de anticorpos e terapias celulares CAR-T.
Por fim, o progresso da China em reduzir o atraso no lançamento de medicamentos, acelerando o acesso ao mercado, reforça ainda mais seu sucesso.